Diário de um Criminalista – Dia de Delegacia
Curitiba, 13 de março de 2019 / Diário de um Criminalista – Dia de Delegacia.
Como todo o advogado criminalista, sempre temos que consultar inquéritos para verificar a situação das investigações sobre nossos clientes, inclusive, para evitar prisões de surpresa e até , se for o caso ingressar com Habeas Corpus preventivo, ou um Habeas corpus para trancamento da ação. Enfim, esta é a vida de um criminalista que está envolto nas mazelas do direito criminal.
Como sei que a Delegacia abre, para o público, neste caso, eu, as 09:30, cheguei pontualmente. Sempre cuidadoso, portava a procuração e os números referentes aos procedimentos investigatórios em andamento.
Fazendo um aparte, de acordo com a Súmula Vinculante nº 14 do Supremo Tribunal Federal, o advogado tem acesso a qualquer processo ou procedimento, não sendo necessária a procuração. Apenas processos em que o sigilo seja necessário que o advogado deve apresentar a procuração e solicitar habilitação nos autos.
De todo o modo, infelizmente a lei não é conhecida por todos, e muitas vezes, segundo o entendimento de que se esta em favor da justiça, contra o crime, impede-se o trabalho de quem realmente faz justiça, o advogado criminalista, aquele que enfrenta a todos durante a defesa de seu cliente. Desde o porteiro até o Ministro do Supremo pressionam este operador solitário do direito. Logo os criminalistas serão mais valorizados e sua função defendida pela sociedade, pois imagine uma comunidade apenas de promotores e juízes?!
Enfim, voltando ao caso, cheguei cedo, estava com a procuração tudo certinho, perguntei aonde seria o cartório da Delegacia para falar com o escrivão acerca da investigação em trâmite. O porteiro, dirigiu-me a uma sala no fim de um corredor com as paredes descascando e aquele cheiro de mofo característico de nossa querida cidade que chove muito.
Tentei adentrar na sala mas estava trancada. Como não tinha escolha, fiquei esperando até que alguma alma aparecesse. Enfim, quase 30 minutos depois chega o escrivão. esbaforido. Pediu desculpas, se justificou, mas nem tomei conhecimento do que tinha acontecido em sua vida. Depois de 20 anos de advogacia você aprende a se blindar.
Mostrei toda a documentação e solicitei vista. O rapaz adentrou em outra sala e sumiu. Cinco minutos depois voltou já argumentando que não poderia fornecer sem autorização da autoridade policial. Para não precisar explicar todos os meus direitos, já pedi diretamente para falar com o delegado que me atendeu prontamente.
Argumentei, ele não teve argumentos, deixou-me analisar o inquérito e copiá-lo.
Pergunto, por que tem que ser assim?
Não sei, mas todos da área criminal deveriam trabalhar juntos, mesmo que de lados opostos.
Obrigado.
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